Entrevista com a Monja Heishin Gandra
- Admin
- 22 de jan. de 2018
- 5 min de leitura
Atualizado: 22 de fev. de 2018
A monja zen budista, aluna discípula de Monja Coen Roshi fala sobre questões relacionadas ao Budismo, como a meditação, bem-estar, paz e desapego

A Monja Heishin Gandra conheceu o Zen Budismo em uma aula de Educação Ambiental. Já havia participado de aulas do Budismo tibetano, depois conheceu a Monja Coen Roshi, mestra do Zen Budismo da tradição Soto Zen Japão e hoje é monja zen budista, aluna discípula de Monja Coen Roshi.
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“Aprecie a vida. Não crie ideias falsas da vida. Viva inteiro, inteira no que faz. Siga os preceitos de ouro: Não fazer o mal. Fazer o bem. Fazer o bem a todos os seres. Não desperdice seu tempo”, aconselha.
Você acredita que o budismo ajuda a encontrar o autoconhecimento?
Primeiramente o Budismo do qual falamos é aquele de Xaquiamuni Buda, o Buda histórico, datado 600 anos AC. Seu nome Sidarta Gautama, que se tornou “Buda”, isto é, despertou após acessar a verdade de todas as coisas. Buda, palavra sânscrita significar “desperto”, “iluminado”. E, a base dos seus ensinamentos é “a mente conhecendo a própria mente”, e assim, transcendendo corpo mente. Somos interconectados, tudo está em constante transformação e nada é fixo, nem mesmo o “eu”. Tudo é um co-surgir simultâneo.Logo, o budismo é a prática do autoconhecimento. Conhecer a nós mesmos, verdadeiramente, permite uma vida com mais sabedoria.
O que mobilizou o jovem Sidarta à busca do caminho de sabedoria foi à resposta à pergunta: qual é o sentido da vida, uma vez que adoecemos, envelhecemos e morremos.Por meio de práticas meditativas, convivendo com mestres, em um dado momento sentou-se com determinação e assim despertou. Após seu despertar, ensinou até aos 80 anos e seus ensinamentos, até hoje, respondem a todas as nossas indagações relacionadas ao autoconhecimento, ao sofrimento ou insatisfações e caminhos para superação que nos levam ao contentamento com a existência.
Após o seu Parinirvana, quando entrou na grande paz (não mencionamos morte), seus alunos discípulos que se tornaram mestres, espalharam-se pelo mundo e se organizaram em muitas escolas onde seus ensinamentos principais foram divulgados nas mais diversas linguagens culturais.
Como o budismo lida com o sofrimento?
Em sânscrito a palavra Dukha significa insatisfação, e também traduzido por sofrimento.Os ensinamentos de Xaquiamuni Buda tratam diretamente dessa questão e tais ensinamentos são o centro de todas as escolas e correntes budistas.
As Quatro Nobres Verdades:
1. Dukha existe - o sofrimento existe – ou as insatisfações existem
2. A Causalidade: há causas que geram as insatisfações e as mantém.
3. Nirvana – estado de paz e tranquilidade - Há um caminho para a cessação das insatisfações, sofrimento.
4. Há o Caminho de Oito Aspectos ou práticas.
Importante é compreender que as insatisfações existem e percebê-las quando estamos sendo movidas por elas, gerando sofrimento a nós mesmos e aos outros.
Observar suas causas. Podemos identificar motivos, origem, em um caminho sincero de compreensão, sem a busca de culpados, responsáveis, mas em nós mesmos.
E, é nessa vida mesmo, ao compreender o que nos move e lidarmos com tranquilidade, podemos atingir a mente de paz.
Assim Buda Xaquiamuni fala do Caminho de Oito Aspectos ou de oito práticas que nos ajudam a lidarmos e trabalharmos com a compreensão das insatisfações e sofrimentos, atuando com sabedoria em nosso cotidiano.
1. Memória correta ou compreensão correta das quatro nobres verdades mencionadas acima;
2. Pensamento correto – compreendendo com clareza, nossos pensamentos também começarão a perceber e a ter mais lucidez;
3. Fala correta. Começamos a ter palavras adequadas, opiniões ou manifestações; adequadas. Até mesmo a não fala é correta em muitas circunstâncias.
4. Ação correta, atitudes adequadas, coerentes;
5. Meio de Vida Correto, coerência a princípios;
6. Esforço correto, isto é, determinação para manter o cuidado em relação à compreensão correta das coisas, do que acontece ao seu redor e em tudo que vivencia.
7. Atenção correta, foco, presença.
8. Concentração correta, meditação, zazen.
Essas oito práticas são simultâneas, interdependentes. Uma leva à outra, uma está dentro de outra, de outras. Estão numeradas apenas para fins didáticos.
Como o budismo pode ajudar em relação ao desapego?
Ganância, raiva e ignorância, os três venenos da mente. O maior de todos é a ignorância. Aquilo que não sabemos e assim, agimos causando sofrimento a nós mesmos e aos outros. O apego está voltado à ganância, também, ignorância. Às vezes somos até gananciosos por um estado de perfeição, criando, portanto, um mundo de ilusões e delusões, causando estados de ansiedade e sofrimento. Também assim com ideias. Os bens materiais também fazem parte. Mas os bens materiais não são o problema. O problema é o que faço com eles.
Nem apego, nem aversões.
Para lidar com o desapego é muito importante percebermos que tudo está em constante transformação. Aquilo pelo qual nos apegamos é falso, porque criamos uma ideia fixa daquilo. Só que aquilo no qual nos apegamos está em transformação e é resultado de infinitas causa e condições. Então o apego é antes de tudo, apego a uma ideia que você fez daquilo. Assim, perceber como vemos as situações pelas quais nos relacionamos e identificarmos pensamentos que ignoram essa realidade de que nada é fixo.
Qual a importância da Meditação?
A meditação, que no Zen Budismo chamamos de zazen, isto é, sentar em presença, e não sentar para atingir algo ou para atingir um estado determinado. Mas, apenas sentar, é o ponto, é o portal do despertar, vivenciado por Xaquiamuni Buda. Sentar. Assentar. Abandonar corpo mente. Desaceleramos as agitadas ondas mentais. A meditação contribui com a saúde e bem-estar das pessoas, além de permitir o desenvolvimento da percepção clara, de sabedoria.
Como o budismo pode ajudar a lidar melhor com os problemas do cotidiano e a saúde mental?
A clareza dos ensinamentos de Buda e a prática meditativa, o zazen desenvolvem em nós grande capacidade para lidarmos com situações de conflito, de tensão, desarmonia, frustração. São saberes libertadores pois permitem que conheçamos o funcionamento de nossa mente. Identificarmos nossos apegos e aversões. Quando somos dominados, dominadas pela raiva, ganância, ignorância. Tendo clareza dos pontos que surgem em nós, podemos mudar, assim, os problemas são administrados com mais sabedoria e a nossa mente fica saudável.
Como o budismo pode ajudar a lidar com a depressão e ansiedade?
A ansiedade nos evoca para questões do passado e do futuro, e a nossa vida está no presente. Claro, trazemos tudo simultaneamente. Mas a mente no presente, atenta a causas e condições, reduz ansiedade. A depressão é quando ficamos com pensamentos fechados e repetitivos. Quando não são casos mais graves que dependem de medicamentos, muitos níveis de depressão são superados por meio da meditação e dos estudos com determinação dos ensinamentos de Buda, como os mencionados já nas repostas anteriores.
Você teria dicas para quem deseja encontrar paz e bem-estar?
Pratique zazen. Estude o Darma de Buda.
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